sábado, 9 de julho de 2011

Victor Hugo

A França despede-se do século XVIII com o mais importante movimento político-social até então ocorrido na Europa: a Revolução Francesa, em 1789, que trouxera em seu bojo os princípios do Estado moderno.

Um olhar sobre o panorama francês do século XIX revela sua riqueza e complexidade: diferentes correntes de pensamento e movimentos literários irrompem por todo o país em meio a diversos movimentos políticos, econômicos e sociais.

Românticos e clássicos
A primeira metade do século é influenciada pela luta política e pelas teses sociais. Numerosos escritores aderem às causas democráticas, e surgem obras de conteúdo social e humanitário.

Já a segunda metade do século é caracterizada pelo progresso da ciência e por sua influência na vida das pessoas. O positivismo do filósofo Auguste Comte traz à tona um novo conceito de ver a. vida. Entre 1750 e 1870, dois grandes movimentos literários se sucedem, cada um com uma visão de mundo específica: o Romantismo e o Realismo.

É durante essa primeira fase literária que nasce em Besançon, às margens do rio Doubs, Victor-Marie Hugo, em 26 de fevereiro de 1802, terceiro filho de Léopold-Sigisbert Hugo e de Sophie Trébuchet.

Assassinato do Duque de Berny
Desde muito jovem Victor Hugo já se mostra senhor de suas vontades. Aluno brilhante na escola elementar e no liceu, tem seu talento para a literatura revelado precocemente: Sua recusa em ingressar na Escola Politécnica para se dedicar à carreira literária causa frustração ao pai, que considera inútil a atividade de escritor.

Mas o tempo mostra que Victor Hugo está certo em seguir suas aptidões. Em 1817, aos 15 anos, recebe um prêmio em um concurso de poesia da Academia Francesa.Finalmente, em 1820, conquista a admiração de familiares ao ter seu talento reconhecido pelo rei Luís XVIII, que passa a lhe pagar uma pensão ao ver qualidade em sua obra Ode sobre a Morte do Duque de Berny. Os anos seguintes são de total dedicação à literatura e à noiva, Adele Foucher.

Sophie Trebuchet
Em 12 de outubro de 1822 o casal sobe ao altar, para desgosto do irmão de Victor Hugo, Eugene, apaixonado por Adele, que enlouquece e é internado em um hospício, de onde jamais sairia.

Em pouco menos de um ano a vida do casal é tomada pela tristeza. A morte do primeiro filho e o fracasso literário como romancista interrompem o período de estabilidade vivido até então. Han de Islândia não agrada à crítica. Victor Hugo, porém, Em 1828, aos 26 anos, rodeado de discípulos, Victor Hugo é um homem feliz: além da encantadora Léopoldine, tem já dois meninos, Charles e François Victor. A conta bancária aumenta, e a família começa a levar uma vida de luxo e elegância. Victor Hugo só lamenta que o pai não possa presenciar sua boa fase, pois o velho Léopold falecera 'poucos meses antes da chegada do sucesso em sua vida.

O Último Dia de um Condenado, obra vibrante de humanitarismo, na qual condena a pena de morte, é publicada em 1829. Os trabalhos em prosa, no entanto, não o satisfazem, nem ao seu público. Retoma então o teatro e escreve Marion Delormt. No ano seguinte a estréia da peça Hernani no teatro divide opiniões: os jovens aplaudem fervorosamente, e os mais velhos vaiam, atiram ovos e tomate no palco. Essa verdadeira batalha contribui para a consagração final de Victor Hugo como líder romântico.

Cromwell, 1827
É o ano de 1830. Após o nascimento de uma menina, que recebe o nome da mãe, Adele recusa-se a ter mais filhos e concede ao marido toda a liberdade para movimentar-se em Paris, desde que a deixe em paz. Essa. grande decepção faz com que Victor Hugo se entregue à libertinagem, ligando-se indistintamente a atrizes, aristocratas e humildes costureiras. Mas ele jamais se separaria de Adele.

Em 1831 escreve seu grande romance histórico: O Corcunda de Notre-Dame. Apesar do sucesso alcançado, Victor Hugo volta a dedicar-se ao teatro e à poesia, gênero em que se torna um dos maiores representantes franceses.

Nesse mesmo ano publica ainda Folhas de Outono, coletânea de versos íntimos em que expressa suas inquietações filosóficas.

O ano de 1835 é particularmente difícil para Victor Hugo, e é quando escreve Cantos do Crepúsculo. Nessa magnífica obra está retratada toda a dor por que passa: sua fé religiosa está abalada, e sua crença no amor, morta. Mas há um fio dê esperança nas entrelinhas: ainda espera pela felicidade.

Os Castigos de 1853
Em março de 1837 recebe a notícia da morte do irmão Eugene. É nessa época que conclui As Vózes Interiores.

Em 1841 ingressa na Academia Francesa, após quatro derrotas humilhantes. Assim, as portas da aristocracia se abrem para ele, sugerindo-lhe ascensão política. Em 1845 é nomeado para integrar a Câmara dos Pares. Em 1848, ap6s a revolução que depõe Luís Filipe e proclama a república, Victor Hugo é eleito deputado em Paris. No entanto, sua radical oposição a Napoleão Bonaparte leva-o a buscar asilo político na Bélgica, após o golpe de Estado de 1851. Em Bruxelas escreve História de um Crime. No mesmo ano, publica Napoleão, o Pequeno Como a vida na capital é dispendiosa, Victor Hugo transfere-se para a ilha de Jersey em agosto de 1852. Ali, adquire uma belíssima casa e chama para junto de si os filhos, a esposa, Adele, e Juliette Drouet, a atriz que, em 1833, se tornara a mais fiel de suas amantes.

Passa os dias praticando equitação ao longo das praias, ouvindo sua filha Adele ao piano, passeando com os cães e concluindo Os Castigos (1853), sua mais violenta sátira política.

A cigana Esmeralda
Os hábitos aristocráticos de Victor Hugo não agradam aos outros desterrados franceses que vivem modestamente na ilha. Por outro lado, sua adesão a práticas de espiritismo não é vista com bons olhos pelos vizinhos e conhecidos. As autoridades, que tampouco aprovam as atitudes de Victor Hugo, valem-se dessa antipatia geral para forçá-lo a retirar-se:

Num chuvoso dia de outubro de 1855 o escritor desembarca na ilha de Guernesey. Junto ao mar, tendo ao longe a visão do litoral francês, viveria ali até 1870.

Do refúgio envia aos editores As Contemplações (1856). Nessa obra chora a trágica morte por afogamento da filha Leopoldine, em 1843, lastima atos de Napoleão e declara seu amor à humanidade, especialmente aos humildes e sofredores.

De longe, Napoleão o observa, e, julgando que ele superara os ressentimentos, oferece-lhe anistia em 1859. Victor Hugo rejeita o perdão e prefere permanecer isolado, concluindo os poemas de A Legenda dos Séculos (1859 Vive tranqüilamente em Guernesey. Juliette mora ao lado, Adele não se importa. Conhece então mais um triunfo com Os Miseráveis (1862), romance épico em cuja elaboração gastara dezesseis anos.

Quasímodo, o Corcunda de Notre-Dame
Os Trabalhadores, do Mar (1866), uma triste história de amor aclamada por muitos como sua obra-prima em prosa é escrita em 1866. A desventura de Gilliat - protagonista do romance - e a exaltação que o autor faz do trabalho, da dedicação e da perseverança comovem o povo francês.

Parece chegado o momento de deixar o exílio. E efetivamente Victor Hugo parte. Porém não vai à França, e sim à Bélgica, conhecer seu primeiro neto, filho de Charles. Treze meses (1868) depois a criança falece, vítima de meningite. Logo outro menino nasce, em agosto de 1868, dias antes da lll0rte de Adele, esposa do poeta.

Chegado o outono, Victor Hugo torna à solidão de Guernesey. Mas em 1870, ao saber da queda de Napoleão e da restauração da república da França, regressa à Paris e envolve-se novamente em causas políticas. Reconquistada a paz da nação, poucos amigos lhe restam, embora ainda conte com a simpatia geral do povo e a veneração de jovens literatos. Depois de perder os filhos Charles e François num espaço de dois anos e de a filha Adele ter enlouquecido e ser internada em um hospício, resta-lhe a companhia do casal de netos e da fiel companheira Juliette.

Retrato de "Cosette"
por Emile Bayard,
da edição original
de Les Misérables 1862
A morte de Juliette Drouet, em 1883, leva-lhe a última companhia verdadeira. .Sobram-lhe apenas os netos , crianças demais para compreendê-lo - e os admiradores - embevecidos demais para colocarem-se a seu lado. Nesse isolamento, morre em 22 de maio de 1885 aos 83 anos. Durante nove dias o povo parisiense vela-lhe o corpo. Em 1 de junho, ao nascer do dia, dois milhões de pessoas acompanham o cortejo, na maior demonstração pública que a França jamais prestou, a qualquer de seus poetas. Seu enterro no Panteão, o monumento fúnebre dos heróis nacionais, fez justiça ao talento de um dos maiores escritores do país.

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