sábado, 9 de julho de 2011

Alexandre Duma Filho


Sob reinado de Luís XVIII, neto de Luís XV, a França vive um momento político de grandes definições. Napoleão Bonaparte, em 1815, é finalmente derrotado pelos ingleses e enviado à ilha de Santa Helena. A França recupera seu prestígio internacional e vive um período economicamente próspero. Com a morte de Luís XVIII, em 1824, sobe ao trono seu irmão Carlos X.

Nesse mesmo ano, em 27 de julho, nasce em Paris Alexandre Dumas, conhecido como Dumas fils, filho natural do escritor Alexandre Dumas père- célebre autor de O Conde de Monte Cristo e Os Três Mosqueteiros, entre outros , e da costureira Marie-Catherine Labay.

Alexandre Dumas Pai
Quando criança, Dumas é vítima de provocações maldosas dos colegas, que o chamam de "bastardo". A triste lembrança desse período o acompanharia até o fim da vida.

Quando Alexandre Dumas pai, em 1831, alcança o auge de sua reputação literária e, conseqüentemente, uma situação financeira estável, reconhece publicamente a paternidade e exige a guarda do filho. A mãe tenta fugir com a criança, mas não consegue.

O pequeno Dumas é bastante parecido com o pai, mas apenas nos traços. Sua constituição física é diferente, e ele possui uma expressão séria e pensativa e um temperamento calmo e disciplinado.

Alexandre Dumas esmera-se na educação do filho e matricula-o em colégios renomados, como a Institution Goubaux e o College Bourbon. Ao descobrir que herdara do pai a imaginação brilhante e o talento intelectual, Dumas decide abandonar os estudos para dedicar-se à literatura. Com dezesseis anos manda imprimir uma coleção de versos intitulada Pecados da Minha Juventude.

Edição espanhola de 1883
da Dama das Camélias
Em janeiro de 1842, com dezessete anos, acompanha o pai em uma viagem à Itália. No ano seguinte retoma ao colégio para concluir os estudos. Dumas filho têm, nessa época, enormes dívidas.

Em 1844 Dumas pai separa-se da esposa, e o filho passa a ser seu companheiro.
Dumas o introduz na sociedade dos artistas e escritores franceses, e juntos vão ao teatro, a festas e a recepções de gala. É numa dessas ocasiões que Dumas filho conhece Marie Duplessis, uma jovem cortesã da sua idade, por quem ele se apaixona. Mas Marie está gravemente doente, acometida por tuberculose. Duplessis é amante de altas personalidades, mas isso não o impede de sentir por ela um grande e verdadeiro amor. Dumas está deslumbrado por sua elegância e sua vida de luxo.

Logo depois Dumas parte na companhia do pai em uma demorada viagem à Espanha e à África. Em fevereiro de 1847, no caminho de volta, ao passar por Marselha ele recebe a notícia do falecimento de Marie
Cartaz de 1853 para a ópera
de Giuseppe Verdi
Nesse mesmo ano Dumas escreve As Aventuras de Quatro Mulheres e um Papagaio e vários outros romances. Inspirado em Marie Duplessis, ele cria a personagem Marguerite Gautier, na célebre obra A Dama das Camélias, que retrata o trágico relacionamento amoroso de uma cortesã com o jovem parisiense Armand Duval. Publicado em 1848, esse romance reflete a mudança de conceito sobre o amor e a família em meados do século XVIII.

A história tem uma repercussão discreta. Dumas decide adaptá-la para uma peça de teatro; porem, no início, as companhias teatrais e os atores se recusam a montá-la por considerá-la imoral. Finalmente, em 1852, ela é representada no Théâtre du Vaudeville e alcança êxito imediato, não só na França, mas também em outros países da Europa e 'na América do Norte. É como se o público se identificasse imediatamente com o drama da heroína. O sucesso estrondoso de A Dama das Camélias possibilita a Dumas saldar parte de suas dívidas e ajudar a mãe.

Há um fato curioso a respeito dos nomes dos principais personagens dessa obra. Próximo à sepultura de Marie Duplessis há um túmulo com o nome "Marguerite Gautier" gravado na lápide. É possível que o nome da personagem de seu romance tenha vindo daí, durante uma visita de Dumas ao cemitério. Além disso, existe também uma semelhança entre o nome do personagem Armand Duval e o seu próprio, Alexandre Dumas.

Ilustração de 1883
para a Dama das Camélias
Em 1852 Dumas, filho começa a ter um relacionamento com Nadine Naryschkine, casada com o embaixador da Rússia na França, príncipe Alexandre Naryschkine, vinte anos mais velho do que ela. Desse relacionamento nasceriam Jeanine, em 1857, e Marie Alexandrine Henriette, apelidada de Colette, em 1860. Com Jeanine, Dumas troca correspondência regularmente, ao longo da vida. sua filha predileta. O relacionamento extraconjugal de Nadine contribuiria para encurtar os dias do embaixador. Depois da morte do marido, Nadine e Dumas filho, que têm uma convivência já de doze anos, se casam. Dumas então reconhece publicamente suas duas filhas.

Em 1853 o compositor italiano Giuseppe Verdi apresenta em Veneza, com grande sucesso, a ópera Ia Traviata, uma adaptação da obra A Dama das Camélias. No século XX, importantes atrizes, como Sarah Bernhardt e Greta Garbo, interpretariam no cinema e no teatro a personagem de A Dama das Camélias, Marguerite Gautier. .

Embora o amor proibido tenha sido sempre um tema predominante no teatro francês, para Dumas ele é quase uma obsessão.

Marguerite e Armand
As onze peças escritas antes de 1880 apresentam o tema do amor ilícito, entretanto Dumas se considera um moralista e um educador, posição que parece um\tanto contraditória.

Dumas escreve outros romances que também são adaptados para o palco e que se transformam em peças notáveis por sua hábil construção. Diana de Lys, de 1853, trata do mesmo tema de A Dama das

Camélias e é baseado no relacionamento do escritor com a esposa do embaixador da Rússia. Le Demi Monde, escrita em 1855, é considerada a melhor de todas as obras dramáticas de Alexandre Dumas filho. Alguns críticos chegam a classificá-la corno um modelo exemplar do teatro do século XIX. O terna difere das duas primeiras na medida em que retrata as tentativas de urna mulher inteligente porém socialmente discriminada de reintegrar-se na sociedade. A peça gerou muita discussão, por retratar a falsidade e a frivolidade da sociedade francesa. Em suas peças posteriores, Dumas expressa sua revolta contra o moralismo romântico, a riqueza excessiva, o puritanismo da burguesia, ataca os preconceitos sociais e levanta questões sociais e psicológicas relacionadas a dramas familiares, prostituição, adultério, divórcio e condição feminina.

Pôster de Mucha para  
Sarah Bernard em
Dama das Camélias, 1896
Com base em sua própria experiência de vida e na personalidade de seu pai, Dumas publica, em 1858, O Filho Natural e, em 1859, Um Pai Pródigo.

Em 1867 Dumas publica um romance semi-autobiográfico, L'affaire Clémenceau, considerado uma de suas melhores obras.

Em 1874 Alexandre Dumas Filho é admitido na Academia Francesa de Letras. Durante mais de trinta anos dominaria os palcos franceses, com peças que defendem uma moral mais livre, com a igualdade sexual entre homem e mulher, o perdão à jovem que peca por amor, o ódio ao sedutor e à hipocrisia da sociedade que força o homem a matar e mulher adúltera. Em suas obras Alexandre Dumas enfatiza a importância do casamento e o propósito moral da literatura. Entusiasticamente aplaudido por uns e causticamente criticado por outros, Dumas provoca amplas e complicadas discussões ,e opiniões divergentes pela forma como trata a questão moral. Obviamente trata-se de um escritor sério e coerente, de um genuíno pensador, embora sua paixão pelo paradoxo e pelo efeito dramático por vezes lhe dê umn ar de artificialidade. De uma maneira ou de outra, entretanto, seu sucesso é extraordinário e inegável.

Greta Garbo e Robert Taylor no filme de 1936
Em 1894, é condecorado pela Legião de Honra (Légion d'Hónneur), a mais alta ordem de mérito do Estado francês, concedida a civis e militares, por sua contribuição à nação.

Após a morte de Nadine, em 1895, Dumas casa-se com Henriette Régnier, que era sua amante havia oito anos. Alguns meses depois, em 27 de novembro, o escritor morre em Marly-le-Roy, deixando inacabada sua última peça, Le Retour de Thêbes.

Alexandre Dumas filho está sepultado no cemitério de Montmartre, a pouca distância do túmulo de sua heroína, Marie Duplessis.

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